Envolta nas Águas

Era tudo muito frio e úmido. As paredes já não eram como outrora. Espanto-me ao ver que as árvores têm folhas mortas e que o brilho vindo da praia se apagou. Não há mais festas, sorrisos ou ao menos aquela velha chama que existia ali, naquele lugar tão mágico.

Passei os melhores anos de minha vida no palácio do rei mais nobre que já conheci. O silêncio antes tão amado deu um ar fúnebre em meu coração solitário. O vento me beija e sorri quando seca minhas lágrimas do sofrimento em que estou mergulhada.

O sol brilha como se fosse um dia como outro qualquer, as pessoas continuam na praia correndo sem rumo. Eu? Tento esquecer meus erros e lembrar dos melhores momentos, das músicas e cantigas, das palavras, das lembranças que nunca terei.

Os pássaros me rodeiam e choram num lamento que me envolve. O perfume tão marcante toma conta de mim e águas salgadas transbordam dos meus olhos cansados. O quarto vazio, as roupas antigas, o aperto na alma.

Mas não se foi por completo. Sinto nos elementos da natureza sua presença latente. A brisa, o mar, as folhas, a água. Ali sinto o reencontro, a energia mais intensa e a prolongação do adeus que tanto me atormenta.