quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Enquanto todos dormiam

Sonhando acordada, delirando mais uma vez. Palavras se esgotam enquanto trago o último vestígio do cigarro que parece infinito. Lembranças que não mais me fazem verter lágrimas. A necessidade do irreal me toma por completo. Se já não durmo, busco em outros lugares o desejo de viver mais do que o que a realidade pode me oferecer.
Meu bálsamo, meu prazer é sentir através daquilo que não é meu. Milhões de imagens e a história daquele que me dá segurança. Somente nos filmes, nos livros, posso mergulhar sem medo, sem pavor de criar relações verdadeiras. É ali, sozinha, numa sala, que consigo ser mais eu mesma.
Corpos que flamejam o ardor, o sangue que pulsa, ali, em pessoas que não irei encontrar mais tarde, com as quais não preciso conversar ou tomar um café depois de uma longa conversa. É quase uma relação sem compromissos. Ou será que o que me torna uma fugitiva também me transforma em prisioneira? Essa dúvida me persegue e, ao mesmo tempo, não quer dizer nada. Se não sou, se não ponho em palavras algo tão abstrato quanto a sensação de viajar com Kato ou Sam Baggins ou até mesmo com Regina George, porque me importar de ser tão presa a essas vidas?
Outro cigarro e abro um livro. Os olhos não fecham, a marca se perpetua como a chama que queima eternamente naquele lugar que já morreu. As folhas já secas me envolvem num deleite inexplicável. A catarse de um Rodin louco me perfura e me faz transcender regras, quebrar paradigmas pessoais. A noite ainda não terminou. O relógio lento aponta a dor do não acordar. As memórias são agora pedaços de uma vida que nunca existiu.