sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dançando ao fim do luar


       Ela estava ali ... sentada naquela cadeira antiga enquanto olhava fixamente mais um dia amanhecer. Não eram os dias e sim as horas que a incomodavam. Passavam lentamente, rindo, zombando dela. Um livro antigo aberto na mesma página. Não consegui deixar de ter certeza que ainda estava ali, aquela figura, pairando no ar.


       Hesitante, tirava sua vida com um lento veneno e se deliciava enquanto a morte tomava conta do seu corpo. Por isso servia longas doses. Tormento, Silêncio. Tortura.
     Quando o procurou, não queria o desejo pulsante e sim  a ternura de seus braços, a calma que a evolvia enquanto, de longe, ouvia o mais belo dos cantos já entoados. Mas não entendeu. Ninguém a compreendia, pois, mal conseguia falar. Um grande muro a afastava da magia de poder estar ao lado de quem amava.
      Mas , já amou? Não conseguia se lembrar dos nomes, das pessoas ou ao menos de quem já foi outrora. Sua juventude deve ter sido boa. Sua infância , pelo menos. Sentia-se velha como o livro que ainda permanecia aberto e resistia ao vento forte que tomava conta da sala.
      As palavras fugiram . As abandonaram há muito tempo. Temiam ser seu instrumento, não queriam ser algozes, prisioneiros. E, por isso, a prenderam naquele lugar. Uma história em fragmentos , um sussurro em meio de gritos, um sorriso falso quando queria apenas ignorar todos ao seu redor.

4 comentários:

  1. Pouxa H.

    Lindo isso. Triste, mas muito lindo.

    Gosto muito de como você escreve H, Parabéns.

    beijos

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  2. Obrigada, suas palavras significam muito, de verdade.

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  3. Estimada Hilda:

    Uma crônica muito boa que retrata as formas como o tempo trata a memória.
    Ao contrário do Ângelo, eu não vejo no texto apenas a tristeza, mas sim, um equilíbrio entre a solidão, a morte com as boas recordações do passado. O que temos aqui é uma reflexão sobre o ciclo da vida.

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  4. Obrigada. Acredito que você captou o que queria passar com esse texto.

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