quinta-feira, 25 de abril de 2013

Naquela festa derradeira

O sol brilha em mais uma tarde de outubro. A casa cheia, muitos conversam, bebem, riem. Envolvida pela fumaça e neblina, ela esquece de todos ao seu redor porque sabe que está sozinha.
Distraída, lembrava do dia em que acreditou na beleza de um sentimento verdadeiro, nas surpresas que a vida poderia trazer, na sensação de que tudo é possível.
Mas nada disso que seu antigo eu acreditava era verdade. Não existe a paixão que mudará sua vida. Jack e Rose se amaram eternamente porque foram dias de um amor impossível. Assim é fácil. Então pensou que se os dois tivessem mesmo fugido, ficado juntos, a vida mostraria o lado real e cruel de uma paixão falida.
Os dias nos quais as dificuldades matariam qualquer coisa de belo na relação dos dois, o tédio dos domingos de chuva, a culpa por ter deixado uma vida para trás. Tudo isso assassinaria o lindo romance do casal que um dia moça venerou.
Por isso, não existe nada que seja para sempre. Viveremos sempre no passado, na relação que não deu certo, mas que poderia ter sido. Porque vivendo de passado não temos que nos preocupar com quem nos ferirá no futuro.
Tudo isso pois ele estava ali, conversava com um de seus amigos. A garota olhava para ele, o desejava, sabia que poderia tê-lo. Mas sabia também o desenrolar de toda a história. Um dos dois magoaria o outro e, por isso, continuou sentada, pensando em sua juventude e em todos os anos de sua vida que teria que negar o prazer de amar.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O agora

E o eterno vazio que sufoca minha alma não dá lugar a mais nada. Tentei ainda hoje recordar de momentos, cenas, quadros felizes de uma vida nebulosa. Tudo de melhor está tão distante, fragmentos alegres mergulhados numa vida soturna. Não existia um só instante que valesse a pena. A mente confusa permanece numa eterna busca de sentimentos, de emoções que são simplesmente falsas.
Cada sorriso fingido dilacera minha alma taciturna e entendiada. Minhas palavras, suas palavras, as palavras de todos nada são além de um emaranhado de coisas rasas, desculpas para parecer que vale a pena não morrer. E sim...continuo vivendo, respirando, expurgando tudo que há de bom em mim porque meu corpo expulsa, renega a felicidade. Hoje e sempre.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aura

E aquela mesma música toca novamente. As olheiras que marcam um rosto ainda jovem e lágrimas que fogem dos olhos numa nublada tarde de maio. Cantarolando, a moça sonhava com o dia em que seu amor voltaria dos braços de um guerra já perdida. A amargura crescia num coração culpado pelos erros de um passado recente. As gotas de chuva de uma garoa de domingo deixavam a menina ainda mais sufocada. Gota a gota, minuto a minuto, não podia respirar.
Um coração cálido mascarado de um frieza inexistente. Queria ter o poder de vencer, lutar por aquele que tanto amava. Mesmo sabendo que era piegas, era assim que o chamava, "o meu amado". Sabia aquele amor era clichê, mas ainda assim, era novo, era vivo, pulsava forte e sua mente enlouquecia junto com o sol que a abandonava na escuridão.
Ainda anda, ele, pelos laços da sombria neblina de uma outra paixão denunciada. Torturava-se no silêncio enquanto lembrava do primeiro sorriso quando descobriu que ainda poderia amar. Sim, a ninfa que mexia em seus cabelos anelados, brincou sempre de amar. Não sabia se era isso que acontecia naquele momento, porém nos segundos infinitos da vida o melhor é poder sentir.
Então, lembrou do calor do corpo dele, do corpo dele no dela. O sentimento de não poder voltar, a chama apagou-se, o luar não aparecia. Escuro e medo. A lâmina que clamava, gritava pela ninfa desesperada. Num rompante, pegou sua linda faca afiada, que vivia numa das penteadeiras da moça entristecida. Não, não queria se matar. Só queria ver seu sangue jorrando do seu corpo para ver se conseguia despertar. Abriu a janela e respirou.
Viu seu sangue mistura-se com as gotas de chuva. "Lindo"", pensou. "Sinto a vida antes de você voltar". Sorrindo, viu o domingo indo, indo no infinito daquele amor doentio.