sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Ode ao fim

E aquele dia que parecia nunca voltar. Um beijo que selava as dores de uma partida insólita. Nunca te vi, amado reluzente. Mas teus afagos ficaram em minha alma como pedras cravejadas. O som que lembrava o retorno e a despedida. Em teus braços delirei, mas nunca senti.  Era a dor de saber que teu coração a outra pertencia. Mesmo meus lábios selando, havia ali a outra que olhava.  E a gaita tocando ao som da madrugada e o álcool recordando momentos.  Te olhei como da primeira vez, esperando sedenta, mas já não podia pestanejar,não como outrora.  Queria um desfecho e as lágrimas de  um noite de desejo sem fim.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Palavras avulsas


Ela caminhava sozinha em mais uma noite escura de um inverno que parecia nunca acabar. Seu guarda-chuva voava contra ao vento e a garota tentava  não perde-lo. O guarda-chuva também não. Já havia perdido tanto nessa vida. Muito mais do que qualquer um, muito menos que a maioria. Mas era tão normal, tão simplória, talvez medíocre, numa mediocridade muito normal.
Como muitos teve uma infância confusa, seus pais brigavam quase sempre. Moravam separados, mas, quando juntos, brigavam muito. Um casamento arrastado ao longo de quase 18 anos. Então morreu. Morreu seu amado pai e disse adeus para o corpo gélido cheio de flores cheirando a velório. Mas isso não a fazia diferente de muitos. O pai de alguém morre todos os dias. Ela era tão normal que não poderia ser única. Tinha sua irmã. Não conseguia lembrar onde estava sua irmã. A esqueceu em algum lugar, talvez na padaria, não sabia. Mas já não se importava, estava frio, queria chegar a sua casa, dormir se conseguisse. Sofria de insônia a menina.
Caminhava rapidamente com medo de ser vista, não queria ser analisada. Poderia perder mais alguém no encontro. Parece estranho, mas só se perde algo que já se tem. Se naquele caminho encontrasse algo ou alguém para amar poderia perder no meio do percurso. Acendeu um cigarro. Não gostava de fumar, a fumaça a incomodava, mas, ainda assim, acendia mais um. Sua companhia quase sempre. A morte que sorria para ela a cada trago de solidão.
Não tinha namorados, nem um amor. Não acreditava em príncipes, até porque sempre se fez acreditar que não existia uma paixão, um amor verdadeiro o suficiente para durar. Também não era bonita, nem feia. Não se achava bela, mas já tinha visto pessoas menos agradáveis de olhar, por isso, acreditava que não era de todo mal. Talvez fosse muito exigente, tivesse muitas demandas, muito trabalho ou não gostasse de ninguém além dela mesma.
E aí chega ao momento em que se lembra exatamente porque começou a caminhar. Não conseguia mais sentir nada e, ao mesmo tempo, queria gritar, gritar o mais alto que pudesse. Mais um erro, mais uma perda. Sabia que era para sempre, que aqueles anos não valeriam mais nada. Toda sua dedicação, seu empenho foram consumidos pela chama da mentira, aquela mentira que era de todo sua culpa.
Andava na chuva, perdida, cantarolando enquanto sua mente borbulhava. Andou, lentamente até a ponte que amava. Via o sol nascer todos os dias com ele ali, seu bálsamo de alegria num mar de espanto. Lembrou enquanto olhava aquele rio verde e cristalino dos olhos daquele que se foi. “Mais um, pensou”. Mais um e o último que se foi antes dela. Sem pensar, sem querer deixou seu corpo inclinar-se, inclinou-se tanto que caiu, caiu da maior ponte da cidade. Segundos lentos enquanto mergulhava no rio doce dos olhos verdes do fim.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sem mais despertar


E a noite caía. Sussurros espreitavam aquele que dormia no quarto mais distante de uma casa muito antiga. Os móveis rangiam com o vento que soprava derradeiro. A mobília era toda de madeira, trazida de um país muito distante para aquele lar de uma família muito tradicional. Móveis que quase possuíam vida. Ele sabia disso. Por esta razão, fechava os olhos o máximo que conseguia. O medo entre as sombras do desconhecido, o pavor entre o descobrir, o saber e pela falta de razão daquela neblina que escorria entre as finas raízes das árvores em sua janela.

Suspiro arrebatante e delírio. Um homem assombrado por um armário que sorria. Eram as fechaduras muito celestiais que incomodavam aquele rapaz que ali se cobria entre véus e cobertores. Pensar e respirar fundo. Era necessário um pouco de racionalidade, afinal, não existiam armários sorridentes. A noite enganava mais que tudo, a noite despistava o sabor de uma alvorada limpa e sincera. Era cruel.

Não podia mover-se, não, de forma alguma. Um movimento brusco qualquer poderia fazer jorrar todo o sangue do seu corpo ainda intocado, novo, fresco. Um sabor desperdiçado em lençóis tão alvos, brancos, quase cristalinos. Um instante em falso e quase dormiu o infeliz. O sono tentava fazer com que ele mergulhasse em sonhos e fantasias. Maiores até do que as mobílias que o envolviam. Mas para quê uma casa tão cheia de coisas. Mal podia andar por ela, passo a passo, caminhava cuidadosamente nas tardes de inverno enquanto o chão tremia tentando engolir as almas dos moradores daquele taciturno solar. Mas era noite, noite tenebrosa e eterna. O sol parecia impossível para aquele rapaz entristecido pelo tempo, pela falta de cores, luzes.

De repente, uma mulher entre as sombras. Agora queria ver melhor, enxergar aquela que ali, do nada surgiu. Cantava baixinho enquanto mexia em seus cachos rubros, como seus lábios. Entoava uma doce canção sobre a lua cheia que começava a iluminar os brancos lençóis do medroso homem que ali fingia dormir. Queria mover-se para olhar melhor aquela dama que quase flutuava, mas não podia, sua cama de madeira maciça incomodava o corpo quase congelado, quase como uma fotografia. Estava extasiado, numa espécie de delírio, seus olhos, agora abertos, bem abertos, viam aquela estátua e a adorava. Uma moça que o fazia esquecer a maldita casa em que vivia. Talvez pudesse mover-se um pouco, só um pouquinho e então aproximar-se-ia da mulher que lhe roubava os pensamentos. Mas antes que pudesse tomar qualquer decisão, ela inclinou-se para perto do seu rosto. Um doce perfume possuía, de frutas frescas, de verão e céu azulado, de ar puro e liberdade. Suspiros e a canção se alastravam naquele quarto agora iluminado. Queria tocar aquela pele alva e macia, queria beijar aqueles lábios vermelhos, será que era um sonho? Não. Não havia dormido, seu leito permanecia intacto. A boca do seu desejo se aproximava lentamente e olhos grandes e verdes encaravam os seus olhos felinos e cansados. "Eu posso te ver", sorrindo disse o ser divino que o fitava. Sorrio também, não podia mais resistir, levantou seu braço e com as mãos frias tocou o rosto da mulher que na noite cantava.

Era quente aquela face, fervia. Tentou afastar-se, mas já não conseguia tirar sua mão daquele rosto que de belo tornava-se macabro. Gargalhadas ao luar, portas que batiam uma sinfonia da mobília que vivia. Um ardor arrebatante em sua têmpora. Caiu na tentação da beleza, na armadilha do mal que sempre o atormentou. Sentiu cada farpa da madeira do seu leito entrando lentamente em seu corpo. Lágrimas de sangue enquanto a música se espalhava repleta dos lábios rubros da dama que o seduziu. Grandes lascas da madeira maciça, perfurando-lhe o corpo, dilacerando-lhe a alma. Já não podia pensar delirar, dormir, sonhar, nem ao menos resistir. Tremia todo o seu corpo, se debatia alucinado pela dor dilacerante, sufocante de ser engolido pela própria cama. Lábios rubros, móveis antigos e o silêncio daquele enterrado no sono profundo e eterno e naquele lar jaziam.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O som do nada


Entre sombras aparecia, provocando as brumas de uma madrugada insólita. Olhava como se já soubesse, com seu sorriso felino,com lábios que imploravam por mais um beijo frio numa noite de solidão. Aquela ninfa sabia.Sabia antes do beijo que a condenaria. Não era mais nada além daquele sonho ao luar. Chovia daquele sol cálido e manso.

Surgiu quando sem esperar. Não sabia dizer não. Luzes em meio a trevas que se dissolviam numa terra que jamais foi vista. Seus pés machucados, imploravam por misericórdia. O sangue escorria lentamente enquanto chorava ao entardecer. Mais um dia,mais uma noite. Ódio pulsante por não ser a amada dos seus sonhos.

Mas não voaria mais entre estrelas flamejantes. A sereia dos seus sonhos estava presa entre pesadelos dos maiores tipos. Era brisa,ventania, era tempestade. Um espelho que não refletia nada. Uma alma vazia e repleta de vozes que gritavam em sussurros aterrorizante. Pedras e mais pedras. Feriam o rosto daquela dama que sem medo pestanejava.

Suas ideias embargadas de vinho e lágrimas viajavam no vento vermelho de um desejo de outrora. Silêncio e o desejo daquela que pulsa, daquela entre lamurios de uma doce caminhada. Estava confusa com os emaranhados dos ébrios em sua existência. Divina luz que a atormenta enquanto balança nos lábios de quem não a ama.

A ninfa dos seios arfantes, a bossa que a carrega nos conflitos da resistência de uma livre alma. A vida que passa num longínquo segundo e ainda aquele que a deixou entre o mar infinito da vida que já não se lembra.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Para aquela quarta-feira



A chama se apaga.
Silêncio.
A vida que corre em busca de uma outra vida.

A música púrpura
Tocando enquanto te beijo
Ao dançar.

Saudade e cigarros.
Um gosto de menta e vinho barato.
As voltas que dei enquanto esperava calada.

Teu fogo faz minha alma delirar
Enquanto foge e te vejo ao longe
Indo a outra buscar.

Luzes e raios em mais um entardecer
Viagem de sonhos e delírios
Meus seios arfantes
Somente buscam seu olhar.

Não existe contentamento
Só aquele instante


Distante de mim
Vejo barcos ao luar
Se pudesse era lá que eu estaria
Flutando num mar profundo
Para meu corpo salgar.

Para uma tarde de outubro


Cores flutuam
Um mar que banha meus pés
As lágrimas salgam meus olhos.

Luar repentino em sol
Vazio imenso
Uma dor nunca se cura
Na eternidade das flores ao recordar.

Teu beijo frio
Que lembra o outrora
Balança meu corpo de volta ao passado.

Vejo ali, na espuma das ondas
Um corpo gélido
Na areia a se enterrar

São cravos?
Não. Rosas...amarelas,douradas.
Como teu cabelo que brilha
Num sonho que para sempre me atormentará.

Tempestade infinita
Volta para teu berço celistial
E diga adeus como eu estivesse contigo.

Tentei escapar jogando-me nas profundesas
De um mar que nunca se finda
De um mar que não vai com aquele que não pude mais uma vez falar.

O cavaleiro num cavalo branco
Me tomou dos braços de Yemanjá
Mesmo sabendo que eu nunca serei sua dama
Pois sou suja demais para em seu leito deitar.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dançando ao fim do luar II

Delícia amarga de um peito arfante numa madrugada fria.Seus olhos languidos calavam o silêncio de uma madrugada triste e cheia de fantasias.Era ela, novamente.Pálida ninfa,sereia dos sonhos indesejados, cravando-lhe na alma a lança da dor. Lentamente, deitava no chão que fervia e delirava num vício que sabia que não era seu, nem de ninguém.
Ele, numa cadeira dourada rodeada de rosas em chamas.Ardia,ardia num profundo pavor,num delicioso medo.Tudo era permitido e proibido.Risos altos da varanda ao lado. Fumaças e mais uma dose de vodka russa,sempre russa. Dançava entre palavras e sussurros enquanto o outro a assistia. Dança perigosa e sutil. Afagos, beijos,pele e mais vícios.
A luz e as cinzas, um cigarro flutua na escuridão. Volte, ela gritava,ao amado que partia entre as nuvens. Sua mente enlouquecia, seus gritos mudos se espalhavam na imensidão do nada. Luzes e raios de uma tempesade que não se acaba, de um tormento que é eterno, das lágrimas que salgam e amargam a vida daquela menina, sereia,ninfa.
Lábios rubros e olhos fechados. Carne viva e dilacerada. Fugindo sem rumo, viajando ao luar, de porto em porto buscando alguém que já não existe. Sentava na varanda enquanto lia mais um poema sujo que alimentava seu espírito. Poetas imundos como ela. A bela dama que sorria para o mundo que tanto a odiava, sorria engulindo as lágrimas, clamando por um novo dia que seria igual ao anterior. Dorme sereia,dorme...no seu mar de pranto e solidão.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O aniversário

Em mais um amor perdeu-se a bela ninfa sonhadora. Sentia-se como uma idiota, entregue de bandeja para aquele que somente beijou-lhe uma vez. Nos seus longos cabelos passava as mãos e cantava enquanto a dama abandonada o admirava de longe, triste, sozinha.Uma chuva púrpura escorria dos olhos amargos e desiludidos da inconsequente menina. Veneno que envolve e banha a alma. Olhares que denunciam, desejos reprimidos e condenados ao esquecimento. Um perfume doce que havia sido derramado, desperdiçado.
 Mas enfim, avistou  um cavaleiro que a salvou das amarras do amor, a fez lembrar da delícia da luxúria e esquecer a ternura de amar. Ele somente a olhou e então a ninfa sorriu sabendo que podia beijar o sedutor que a tentava. Marcas, afagos e a tentativa de resistir ao impossível. Cervejas e mais cervejas libertavam pudores. Fingia que não se importava tanto, afinal, não queria entregar-lhe seu coração e ,portanto, seu corpo. Não deveria saborear o veneno da paixão. Quanto mais fria fosse melhor para não voltar ao precipício da solidão de quem ama.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Falando com o vento

Palavras soltas no ar. Uma viagem proporcionada pelos melhores venenos. Uma carteira de Hollywoood pela metade e mais um trago de um vinho barato. Muitos, muitos estavam presentes. Era mais uma festinha de crianças de quase trinta anos, a lua cheia e uma mente vazia mascarada por discursos cheios de empáfia. Mãos ansiosas procuram um razão para gesticular e criticar o mundo em que habitam.
Mas como faze-lo se mais da metade do tempo estavam dopados,  sufocados pela fumaça da doce Cânabis. Não enxergar a realidade impede-os de poder falar da mesma. Uma classe média barata que foge de empregos para curtir os momentos mais interessantes da vida. Porém, se por um dia, vivessem como aqueles que desprezam, sóbrios, ricos e com o carro da última geração, provavelmente seriam imersos na calmaria de ventos mais tranquilos.
Posso falar e ninguém me entender, posso gritar e o universo estar mudo. Estou só. Mas de algo eu sei, a hipocrisia de menininhos que ainda moram com suas mães, não pagam contas, não acordam com problemas palpáveis é grande. A alienação também os alcança. Fato. É... pobre daqueles que não enxergam a mais de um palmo à sua frente.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Depois de um sonho

Acordei hoje com essa música de Cole Porter na cabeça. Há algum tempo não escutava. Lembro da minha adolescência, do ano que passou, de momentos e pessoas em minha vida.




NIGHT AND DAY
Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall
Like the drip drip drip of the raindrops
When the summer shower is through
So a voice within me keeps repeating you, you, you
Night and day, you are the one
Only you beneath the moon or under the sun
Whether near to me, or far
Its no matter darling where you are
I think of you
Day and night, night and day, why is it so
That this longing for you follows wherever I go
In the roaring traffics boom
In the silence of my lonely room
I think of you
Day and night, night and day
Under the hide of me
Theres an oh such a hungry yearning burning inside of me
And this torment wont be through
Until you let me spend my life making love to you
Day and night, night and day

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O sonho de um deus

Sentado numa cadeira de ouro, olhava seus súditos que tentavam o alcançar. Era de longe o mais bonito dos deuses e mais inteligente também.  Não cansava de ouvir as ninfas que sussurravam em seus ouvidos impropérios de paixão. Nenhuma delas era importante. Somente as palavras que amaciavam seu espírito vaidoso.

De longe, uma bela dama olhava aquele narciso que parecia-lhe distante de tanta luz que o rodeava. Para ela, um ser revoltante. Já havia amado guerreiro, cavaleiros errantes. Não se impressionava com o brilho de um deus sonhador. Um anjo dançava entre nuvens douradas sob a cólera daquele que não sabia amar.

O deus de repente sentiu seu coração congelar. O mundo de cores e lira parou de existir. Versos, fantasias e a sede de uma paixão pueril. Olhou aquela que o encarava. Seus olhos de ressaca e uma boca vermelha. Seu peito flamejava, ardia de dor e delírio. Petrificado, olhava seus gestos e sonhava em ouvir sua voz. 

Lanças da madrugada, beijos imaginários, voavam num céu de estrelas. Aquela mulher não parecia real. Sua beleza cegou aquele que a admirava. Um louco apaixonado que nada mais podia ouvir, falar. Queria aproximar-se daquela dama de chamas, mas seu corpo estava numa letargia irreal.

Porém, tão rápida quanto surgiu, desapareceu por entre as flores de um céu que se tornou amargo. Quem outrora reinava sobre as estrelas, tornou-se um homem sozinho e infeliz caído ao lado de sua dourada cadeira de deus.