sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aura

E aquela mesma música toca novamente. As olheiras que marcam um rosto ainda jovem e lágrimas que fogem dos olhos numa nublada tarde de maio. Cantarolando, a moça sonhava com o dia em que seu amor voltaria dos braços de um guerra já perdida. A amargura crescia num coração culpado pelos erros de um passado recente. As gotas de chuva de uma garoa de domingo deixavam a menina ainda mais sufocada. Gota a gota, minuto a minuto, não podia respirar.
Um coração cálido mascarado de um frieza inexistente. Queria ter o poder de vencer, lutar por aquele que tanto amava. Mesmo sabendo que era piegas, era assim que o chamava, "o meu amado". Sabia aquele amor era clichê, mas ainda assim, era novo, era vivo, pulsava forte e sua mente enlouquecia junto com o sol que a abandonava na escuridão.
Ainda anda, ele, pelos laços da sombria neblina de uma outra paixão denunciada. Torturava-se no silêncio enquanto lembrava do primeiro sorriso quando descobriu que ainda poderia amar. Sim, a ninfa que mexia em seus cabelos anelados, brincou sempre de amar. Não sabia se era isso que acontecia naquele momento, porém nos segundos infinitos da vida o melhor é poder sentir.
Então, lembrou do calor do corpo dele, do corpo dele no dela. O sentimento de não poder voltar, a chama apagou-se, o luar não aparecia. Escuro e medo. A lâmina que clamava, gritava pela ninfa desesperada. Num rompante, pegou sua linda faca afiada, que vivia numa das penteadeiras da moça entristecida. Não, não queria se matar. Só queria ver seu sangue jorrando do seu corpo para ver se conseguia despertar. Abriu a janela e respirou.
Viu seu sangue mistura-se com as gotas de chuva. "Lindo"", pensou. "Sinto a vida antes de você voltar". Sorrindo, viu o domingo indo, indo no infinito daquele amor doentio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário