quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

E num sonho, um amigo

E num mar de orgulho mergulhei. Foi tão profundo que não pude enxergar mais nada. A dor em meio a distúrbios. Eu a louca, enquanto caminhava com um antigo bufão. As lágrimas dele eram mais amargas que as minhas, mas, em algum ponto, de um longo caminho, me escutou. Nada disse, só ouvia as palavras de uma pobre ninfa que lhe contava as mazelas do amor. Enquanto lívida corria lágrimas, suspirava e a levava para longe do martírio.
O mal, em traje de anjo, tenta aproximar a pobre ninfa do cavalheiro sonhador que cantava versos já para outra amada. O dom das rimas deixava-o louco. Palavras, sensações e a certeza que a dor de amar era a mais prazerosa.Um sorriso louco e as lembranças de quando ainda sonhava. Se era mesmo algo para se sonhar, por que as marcas num corpo dourado? Não sabia, ninguém sabia. O que pode-se entender da tristeza? Somente aquela fria donzela com um corpo já maculado. Incertezas do mundo, da vida. Um longo gole de um doce absinto e o sangue que escorre num rosto cheio de mar e luz.
Somente um longo caminhar de uma rua íngreme já conhecida. Sorrisos e confidencias de uma fraca sensação que já não existe luar. Oh!  Oh, querido bufão, como poderei esquecer nossas dívidas, nossas lamúrias e os pássaros que cantam enquanto lembramos daqueles que já se foram enterrados sobre o entardecer.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A queda

Mais um gole de um sonho louco e a vida que para por um instante. Vinte, trinta dias de loucura e solidão. Intensamente fiz escolhas, optei por sentir mais, essa é a minha droga. Um ódio que pulsa, um beijo que não acaba, até poderia ser minha maior qualidade. A grandeza do sentir. Vodca, cigarros, cervejas que me banham, me inundam, mas não são suficiente para guardar palavras. Não, não sou assim. Quero dizer, quero lembrar, prefiro sofrer a não usar a minha cruel sinceridade, a não expurgar o desejo da minha verdade. A tristeza que há em mim refletida pela dor de saber que não escolhi deixá-lo.
Hoje queria sim uma borracha, uma máquina do tempo. Não para mudar o que disse e sim para apagá-lo desse mês que me devora. Seria ainda sem máculas, acreditando em dias tranquilos.Uma lente de aumento, para ele. Para mim, diminuo as consequência, não disse ainda tudo que queria. Mas basta. Sei que, no fundo, minha alma bêbada sussurrou e me empurrou para a loucura. Não posso obrigar ninguém a me entender e na tentativa caí num profundo abismo e as marcas no meu corpo são a prova constante de que não só de impulsos e Carpe Diem vive o homem.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sobre uma noite de sábado

Embebida por mais uma noite de jogos e festa deixo escorrer as palavras que lentamente caem de meu rosto sombrio. O calor dos afagos não compensam a dor da mentira em terras frias. Um silêncio e meu coração palpita sabendo que julguei mal o cavaleiro que outrora beijei. Tortura amarga e um grito sussurrado em meu peito calado. A fumaça de um cigarro que verteriam-se em lágrimas se acaso deixasse. Sons, cores, brigas e movimentos de uma ninfa ainda jovem. Minha visão turva, meus olhos embargados de madrugada. Noite confusa, engano que dilacera a alma. Um amigo desfeito é outro que se aproxima.
 Quero a brandura de um sol flamejante e a certeza que não serei jamais envolvida por mistérios. Um príncipe fantasiado de fera e um bandido que sorriu com seus olhos de ressaca. Deito-me entre folhas douradas e espero por uma verdade como a daquele guerreiro que mora na lua.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E na noite de um pequeno poeta

E nos seus cabelos me emaranhei muito rápido. De tal forma que nem percebi que sentia uma crescente vontade, um desejo. Não era paixão ou amor. Na realidade, um sentimento que pulsava em minhas veias fracas. Teus beijos me deixaram louca e não tu de verdade. Contava moedas em seus bolsos vazios, te estendi um copo já cálido e fervia. Em meus sonhos me avisou que por mim já não sofria. Eu, a idiota, sonhava com mais uma noite de beijos ardentes. Teu ser tão rasteiro, tão pouco nobre. Eu já não me reconhecia. O que tu despertou em mim era do que fugia. Por isso, drástica, me afasto, antes que o desejo da carne se torne sentimento.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

E o calor...

Pela noite passeio agitada, olhos inquietos que deslumbram-se com a madrugada. A vida noturna me encanta e sou embriaga pela lua que me beija. Sonho acordada e o desejo de sorver estrelas quentes e servi-las em meu corpo arrepiado pelo mar. Sussurros e gritos de lunáticos que drogam-se e riem na areia molhada. Moedas se vão, amores retornam e um coração que cobre-se de felicidade.
O sol em seu primeiro raio já lembra a tortura do silêncio. A vida numa prisão dourada e as voltas infinitas de luzes estouradas. Mais um dia e as pessoas correm. Mas para onde,ora essa? Como amar um mundo tão acordado e que estraga as doces aventuras.
Quero cantar, dançar, amar, trabalhar, sonhar, viver à noite. A linda e misteriosa noite que embala, transforma e acende minha vontade de viver.

domingo, 27 de novembro de 2011

No luar antigo

Minha livre pele que queima entre corpos nus, arde de veneno e desejo. Não posso relutar por um instante que vá correndo em busca de outros beijos. Terna, meiga e sonsa, me aproximo do teu cálido corpo. A madrugada zombeteira e triste dá lugar ao sol irresoluto. Danço no ar correndo entre as nuvens serelepes. Pensa que pode me assustar com seus gritos breves? Oh, bruma sem fim, mistério para mim não há. Já em outros olhos as mesmas chamas que tentaram me embebedar.
Um eu-lírico amargo e a vontade de que janeiro me enlace. A vida num suspiro de tristeza e a solidão que me embala em multidões caladas. Nem mais um trago do veneno mais doce, que me acalmava entre lágrimas e passageiras lembranças.Agora é só esperar pelo dia em que sorverei novamente mais um gole de uma gelada paixão.
Estranho ou não, mergulhada nos braços de Orfeu, recordo dos dias em que não precisava me preocupar com que horas precisava chegar. Ontem, semana passada. Oh, dias gloriosos. Já cheguei no limite da farsa. Sou livre, ora, não há quem me amarre, prenda ou, até mesmo, me faça sofrer por mais de cinco minutos. Pena para você, sorrisos para mim. Adeus madrugada louca. Voltarei para o ingrato dever de casa e mais um copo de suco vazio.

domingo, 13 de novembro de 2011

Confusões de um moribundo sonhador

Descia ligeiro. Era um sonho que parecia não acabar. Olhava apreensivo para o relógio, não funcionava, nunca iria funcionar. Preso entre duas realidades, sufocado entre o real e o imaginário, fugia como um louco arrependido dos dias em que a chuva roubava-lhe a saúde e a paz. Mas era hora de trabalhar. "De novo?", se perguntava. Havia trabalhado na segunda e na terça. Porque quarta novamente? Caia na imensidão irretocável, na magia de um dantesco mundo onde o centro era sua cadeira.
E dormiu ... ou acordou, não sabia. Um dos mundo começara e o outro terminou. Ou...ou...ou..já não sabia e sentia o mesmo frescor juvenil de outrora. A confusão sobre o futuro e a vontade de passar por tudo aquilo para depois viver. Na verdade, é como fazemos todos, passamos pela vida e não a vivemos.
Triste, dançava pela areia e mergulhava no luar. Vozes sussurraram em seu ouvido hermético, fonético, imagético, sinestésico. Voava e tropeçou para beijar a boca da amada e cobri-lhe de afagos. E o jogo do amor era mais uma ilusão para não lembrar que voltaria para o sonho. Aquele lugar terrível em que passava todas as horas sentado. Ou será a vida real?
Gritou desesperado e sentiu sua fronte latejar fortemente. A dor penetrou todo seu corpo. Não conseguia pensar, nem falar. Sentia somente a dor cravada em sua cabeça.Urrava e seu corpo zombava dele e aumentava o tormento de um solitário forasteiro que não sabia de quem era peça de um tabuleiro. Triste cavalheiro, pelas trevas da morte foi devastado e não mais viveu, sonhou ou respirou. Ninguém ouviu mais falar dele, ninguém jamais soube para onde foi.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A ALMA VAZIA

Acordo desesperada, com uma imensa vontade de gritar. Pesadelos me perturbam a noite inteira. Fantasmas do passado me perseguem furiosamente. Não sei o quem sou, o que faço ou quero. Estou presa numa armadilha. Não há saída.
Quando comecei a fazer as minhas escolhas, vamos dizer, acadêmicas, tinha outros planos em mente. Ingênua ou não, sonhava com o universo das letras, do teatro. A história de uma arte milenar contada nos livros, nas aulas. De maneira que, quando vivi a realidade me senti sufocada pela verdade cruel. O mundo que sonhava se espedaçou em segundos. Respirei, continue. Afinal, lutei tanto para começar, por que não ver no que iria dar.
O começo, comparado com o que sinto agora, não foi ruim. Na verdade, me sentia feliz, motivada. Porém, a decepção foi crescendo tanto que fui engolida por um desespero inenarrável.Queria viver o conhecimento, senti-lo em minha pele. Contudo, tudo não passou de uma mentira, uma realidade paralela na qual tudo é vazio.
Acreditava que tirando um pouco do espaço que havia para minha paixão, o cinema, teria ali um outro preenchido, uma razão a mais para viver. Mas o espaço não foi preenchido. No lugar dele só perdas, mortes. A dor servida num corpo gélido. Me perguntam por que. De tudo. De tudo. Mas eu não. Eu não sei o que faço lá ou aqui ou em lugar algum. Não sinto que estou no meu lugar. É como se, ao invés de estar com algo meu, tivesse pegado emprestado de uma outra pessoa.
Sorrio para todos e juro para mim mesma que uma hora tudo vai passar. Faltam menos de 2 anos para que então possa seguir em frente.
O suplicio toma minha alma, me carrega pelas ruas chuvosas. Uma luz ao longe sorri cínica do meu presente obscuro. Gritos mudos na madrugada e o silêncio quebrado por sussurros do nada.

sábado, 8 de outubro de 2011

A song that I love

Nothing like a Bossa to make me calm.


Fly me to the moon and
Let me play amoung the stars
Let me see what spring is like
On jupiter and mars
In other words, hold my hand
In other words, baby kiss me
Fill my heart with song and
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I'm in love with you
Fill my heart with song and
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words
In other words,
I, I love, I love you

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Salve Rei que serás

Depois de mais uma insônia comecei a tentar decifrar a razão de estarmos todos aqui. Depois lembrei de um certo momento de desgosto e um pequeno monólogo que diz muito do que eu penso sobre a vida.
"Tomorrow, and tomorrow, and tomorrow, creeps in this petty pace from day to day, to last syllable of recorded time. And all our yesterdays have lighted fools the way to dust death. Out, out brief candle! Life's but a walking shadow; a poor player that struts and frets his hour upon the stage, and then is heard no more: it is a tale told by an idiot, full and of sound and fury, signifying nothing."

A dor e as nuvens

Era uma nuvem que passava ligeira. Celeste lembrava ds dores que sentia de quando em quando. Não era nada que a fizesse correr para o hospital. Somente sentia sua pernas latejarem e seu nariz sangava. Sentia lentamente o sangue escorrendo por sua face. O costume com a situação a deixara um pouco fria, não se importava de andar pelas ruas enquanto todos ao redor riam de cada gota derramada.
Todos os dias caminhava até a cidade sozinha. A dor a consumia e sentia vontade de gritar. Mas segurava seus impulsos e somente sorria para aqueles desconhecidos que a desprezavam por ser diferente de todos os outros. Celeste, só Celeste sabia que, no fundo, todos nós somos diferentes. Temos problemas que vão além das contas, das notas, dos filhos. Nós, seres humanos, temos problemas em lidar com nós mesmo e  fugimos desse embate, dessa força que nos impulsiona a refletir.
Compramos, rezamos, beijamos e deitamos para dormir repetindo que sobrevivemos a mais um dia em que poderíamos ter morrido só por estarmos vivos. Delirava então a pobre moça pedindo ao magro rapaz da padaria que lhe desse um remédio para suas dores na perna. "Estamos numa farmácia", repetia. A menina enlouquecida começou a repetir palavras inaudíveis. Ao redor, todos com medo, não identificavam o que aquele animal tentava dizer. Só ouviam grunidos.
O rapaz da padaria pegou um cabinho de madeira que ficava sempre perto da porta, uma porta de madeira muito bonita, Celeste olhara para ela antes de entrar, e começou a cutucá-la tentando afastar aquela selvagem que começa a contorce-se sem ao menos deitar-se. "Tirem ela daqui!", clamava um criança acuada. Urrava de dor,pobre Celeste e alucinada corria sem gritar. Muitos aliviados comemoravam a saída da estranha que sempre andava sangrando.
Sozinha, na luz que queimava seu rosto, clamava por um conforto lunar. Sabia que todos aqueles não poderiam ter o destino que mereciam, não seriam punidos da maneira que ela desejava. Também sabia que, no fundo, por mais óbvio que lhe parecesse, todos eram iguais a ela, ou até piores, só não podiam enxergar. Quando deitou-se em sua cama, dormiu sorrindo sabendo que aqueles corpos morreriam queimando na angústia do vazio da existência infinita. Sua dor não passava.  Todos estavam e estão condenados.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Santiago

Calada sorrio de tudo o que já disse um dia. Não me irrito, nem sou mais capaz disso. A felicidade que sempre fingi desprezar me convidou para ficar ao seu lado e não consegui dizer não. O dia está ensolarado demais. De repente, percebo que estou cantando, flutuando, distraída em pensamentos que voam. Não consigo mais sentir-me solitária, não acendo mais cigarros na madrugada.
Então temo. Temo perder minha inspiração para escrever. Porque sempre escrevi sobre coisas tristes, sobre o que me angustiava. Uma garota olha a lua pela janela e vê seu reflexo na chuva. Todos dormem e ainda falo sentindo o frio de mais uma noite de junho.
Meus versos alegres mancham minha taciturnidade resoluta que parecia  nunca me deixar. Não entendo quem sou eu e em quem estou me tornando. Tudo é estranho, novo. O mundo brilha, sempre em festa enquanto não enxergo nem mais um centavo da maldade humana. Parto andando em silêncio e aproveitando cada passo dessa estrada.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A prisão

Em meio a clarão e trevas, a sombra não é resguardada. Não. Nunca é. Na realidade, ela se sobrepõe a luz tímida que mergulha em mim, uma artista abandonada, renegada e envolta numa neblina infinita. Ah! Luz inconstante, clamo que não parta, que fique um pouco mais e não deixe-me nesse mundo dantesco de solidão.
A obra sorri cínica, inacabada. Um grito silencioso tenta sair do meu corpo que treme, chora, olhando humilde para aquela que me vê e pode me ajudar.Sim, aquela que por opção não se finda. Segundos transformam-se em horas e a angústia teima em não partir. O temor e a madrugada, um papel em branco e nada de concepção.
Vozes sussurram em meus ouvidos e tento traduzir Shakespeare em minhas palavras. O caos se instala e minha alma berra impropérios aos ventos da Escócia. Olhos que buscam meu comando,olhos nervosos, famintos e sedentos por uma cena que nunca irá acontecer. Então, minha vida se torna um eterno esboço, um rascunho, uma sobrevivência dentro de um limbo sufocante. Nada. Nada. Nada.
Um punhal cravado no meu peito, uma estaca fria, seca que se inunda com meu sangue e desliza lentamente junto com lágrimas amargas.
Agora mesmo, sinto as paredes que se aproximam e zombam de mim. Não há momentos sem dor, confusão. Um mente parada insiste em não trabalhar enquanto todos só me cobram, transtornam e me fazem não mais querer respirar. Tortura, silêncio, não há paz e sempre é um processo turbulento.
Preciso preencher linhas, criar sempre novas coisas. Tudo isso enquanto a areia da ampulheta cai sorrateira e cruel, correndo para me afligir e me segue lembrando que o tempo escorre veloz. Até o encontro machuca. A obra pronta é resultado de uma vida atormentada e quando se finda somente dá espaço para a próxima.
O maior problema é que já me disseram que sou artista, como vou agora negar? Não sei exatamente o que sei fazer, mas  já é tarde para fugir, sonhar, dormir. A insônia. A olheira e o rancor de quem não consegue mais criar. A teoria secou meu coração de escritora, dramaturga, poeta. Normas,regras que me executaram e servira-me numa bandeja de prata num banquete de loucos em pleno século XXI.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sonhando com um anjo

Um mergulho, um salto e susto. Acordo com a luz que invade meu quarto. Ando embalada pelo sono, tento lembrar no que estava pensando antes de abrir os olhos para a realidade fria da minha vida. Levanto devagar e abro uma gaveta perto da minha cama. Estava vazia. Silêncio. Começo a procurar o veneno que afaga e deleita. Não encontro. Meus cigarros sumiram, não os vejo.
Um certo desespero invade minha alma e respiro tentando me lembrar onde estava meu tesouro fúnebre, minha arma contra a monotonia de uma vida sóbria. Olhando melhor ao redor, percebo que tudo havia mudado de lugar, os móveis, os objetos, a minha casa. Tudo.
A angústia podia ser saciada por outra coisa então. Além do cigarro e do sono, que já havia me deixado, nada melhor do que me deliciar com alguma comida calórica e que mata só de olhar.
Esperançosa, parto para cozinha procurando um conforto, um remédio para a solidão, para o vazio em mim. Procuro calmamente qualquer coisa que possa me divertir por uns segundos e me culpar por muitas horas. Nada. Irrito-me. "Onde estão minhas coisas?", pensei. A raiva me invade por completo. Sem cigarros, sem ataques matutinos à geladeira. "Será que tudo estava perdido?"
Paro e escuto uma risada, ao longe, uma voz que sussurra ao meu ouvido. Sei que há sim uma solução melhor do que a fuga, melhor do que uma desculpa para uma subvida. Sinto meus pés formigarem e meu corpo sendo puxado, arrancado do tempo e do espaço. Abro os olhos e vejo meu quarto exatamente como era antes. Ainda é noite. Corro para a varanda e vejo as estrelas que brilham na imensidão. Não penso em mais nenhum paliativo para tristeza porque não estou mais taciturna como antes e sim espero o anjo voltar para que eu possa dormir novamente em seus braços.

domingo, 15 de maio de 2011

Palavras sobre o Ex-Glamis e sua esposa

Em meio a tanta morte e caos, olhavam sorridentes como se nada tivesse acontecido. O mal foi evocado e saiu daqueles corpos maculados pela sombra e pela morte. Das paredes, jorravam sangue dos que que um dia ousaram passar em seus caminhos. O fel escorria dos lábios e se tornava veneno na taça de um soberano. Mãos de sangrentas e um cetro infértil. Até que um dia a floresta se moveu e o homem não nascido de mulher desembainhou sua espada e triunfou na noite silenciosa que os acompanhava.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Palavras desconexas

Quando alguém me perguntava o que eu queria ser quando crescer, sempre respondia: "artista". Pobre de mim! Não sabia os conflito internos, e pior, existenciais que essa profissão pode trazer. Não que não seja um bom caminho a trilhar. Depende de cada um. Talvez... o problema não seja nem com ela, a profissão, mas comigo.
Afinal, que tipo de artista quero ser? Não sei, não faço a mínima ideia. Não quero mais culpar minha juventude, minhas perdas. Me sinto só num mundo superlotado, fato. Mas, ser diferente de todos os outros não é o bastante. Não nasci com nenhum dom magnífico, não criei nenhuma sonata aos seis anos. Mas, será que isso significa que não há esperança? Não sei. São muitas questões, poucas respostas.
Me sinto sufocada, não tenho de onde retirar mais ideias, minha criatividade secou, está lá amarga, num canto escondido junto com meu talento. Os dois definham num quarto solitário e escuro onde só há dor.
 Escrever, gosto, muito, mas quem disse que isso me faz uma escritora? Bosi afirmou que uma obra de arte só é obra de arte quando é reconhecida por alguém como tal. Será que minha mãe vale? Espero que sim.
Mas, aí surge mais uma questão... não queria mais uma... mas ela está sorrindo para mim e sempre surge quando paro de ter infinitos compromissos e consigo pensar.Será que quero ser artista? Porque acredito que escolhi esse caminho por ser o mais familiar, o menos doloroso. Não faria nada que não me permitisse escrever, estar em contato com a arte e os artistas. Não sobreviveria.
Minha mente confusa digita tantas palavras sem sentido e elas formam um texto ansioso, cheio de informações desconexas, como a minha mente é.
A crise. A minha crise dos vinte anos. Duas décadas de confusão numa mente jovem, mas cansada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Enquanto todos dormiam

Sonhando acordada, delirando mais uma vez. Palavras se esgotam enquanto trago o último vestígio do cigarro que parece infinito. Lembranças que não mais me fazem verter lágrimas. A necessidade do irreal me toma por completo. Se já não durmo, busco em outros lugares o desejo de viver mais do que o que a realidade pode me oferecer.
Meu bálsamo, meu prazer é sentir através daquilo que não é meu. Milhões de imagens e a história daquele que me dá segurança. Somente nos filmes, nos livros, posso mergulhar sem medo, sem pavor de criar relações verdadeiras. É ali, sozinha, numa sala, que consigo ser mais eu mesma.
Corpos que flamejam o ardor, o sangue que pulsa, ali, em pessoas que não irei encontrar mais tarde, com as quais não preciso conversar ou tomar um café depois de uma longa conversa. É quase uma relação sem compromissos. Ou será que o que me torna uma fugitiva também me transforma em prisioneira? Essa dúvida me persegue e, ao mesmo tempo, não quer dizer nada. Se não sou, se não ponho em palavras algo tão abstrato quanto a sensação de viajar com Kato ou Sam Baggins ou até mesmo com Regina George, porque me importar de ser tão presa a essas vidas?
Outro cigarro e abro um livro. Os olhos não fecham, a marca se perpetua como a chama que queima eternamente naquele lugar que já morreu. As folhas já secas me envolvem num deleite inexplicável. A catarse de um Rodin louco me perfura e me faz transcender regras, quebrar paradigmas pessoais. A noite ainda não terminou. O relógio lento aponta a dor do não acordar. As memórias são agora pedaços de uma vida que nunca existiu.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Na lápide

   "Minha alma é vazia", pensava Amélia enquanto observava a água que demorava de ferver. Sentimentos apagados não procuravam seu caminho de volta. O seu corpo agia, podia ouvir sua voz enquanto conversava com os outros. A razão para tal coisa não sabia. O tempo corria e escorregava em suas mão. Não conseguia se defender das armadilhas feitas pelo destino. Refletir sobre suas ações já não conseguia. era difícil até mesmo lembrar do que estava fazendo.
   Esperando a água ferver, lembrou-se. De fato, era mais fácil parar de pensar. todos estavam caminhando em sua direção. Esperando, esperando e cobrando. Mas, o que queriam? Pergunta difícil, sem resposta. Não era tão tranquilo viver. Distraída queimou sua mão enquanto tentava recordar para que a água servia. Por que? Por que a ferveu? A angústia tomava seu corpo indefeso e a mergulhou numa profunda tristeza. Derramou a água na pia e procurou mais um ofício, um trabalho para fazer esquecer o que realmente precisava fazer.
   Assim era Amélia. Sozinha buscava desesperadamente uma razão para não sentir o ar leve enquanto caia na imensidão do céu azul vendo as estrelas ficarem cada vez mais distantes e, ao mesmo tempo, mais próximas. A surpresa e o inesperado não faziam parte de sua rotina. Mas se fizessem não seriam também rotina e se tornariam monótonos? As respostas estão guardadas em algum lugar longe e sombrio. Esse lugar tão longínquo não está ao seu alcance. sua cabeça dói e estala ao tentar pensar. Talvez agir maquinalmente já tenha se tornado mais prático e sua mente tenha parado de funcionar.
     Precisava sair. Tinha um compromisso, uma reunião. Mas, e sua família? Que família? Possuía alguma?Franze o cenho e procura recordar. Sim, sua mãe estava muito longe, seu pai morto há muitos anos Não era casada ou possuía amores. Podia sair tranquilamente de casa e ninguém notaria, nenhum parente, nenhum empregado. Era só ela, ali na escuridão. Bateu a porta. Do que se tratava a reunião? Negócios a serem fechados, torturas num silencio nebuloso e a certeza de que a felicidade estava ao longe sorrindo e zombando daqueles que nunca serão felizes.
    Todos os dias as pessoas caminham, trabalham, dormem, morrem. Ao certo, ninguém tem a razão para tudo isso. Mas para que? É mais simples seguir sem perguntar e agir até que o último suspiro condene o nosso corpo frio e o de Amélia às trevas de um funeral. E a esperança é que seja digno... se necessário.


      

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Sol

Lá, onde todos riem, vejo seu semblante falso. Sei que está exitante, que já não tem certeza de nada, mas não diz. Novamente faz que sorriu e olha para os lados tentando se esquecer da realidade que tanto a assombra. Pobre querida amiga, se quisesse falar ou ao menos me dar um olhar de confiança, ouviria e te responderia o que realmente penso de tudo que já viveu.
Sei que ele te afeta e, por isso, não mais o menciona. Também sei que sua vida, seu conto de fadas, nada mais é que fruto da sua imaginação pueril, ou será louca? Não sei o que pensar. Achava que, em você, poderia sempre confiar. Mas, e aqueles sussurros atrás da varanda?
Ainda busco os melhores momentos, os dias em que você realmente brilhou como o Sol em seu nome. Mas, o brilho se apagou e só vejo vestígio daquela que um dia foi tão feliz. Me angustia seu sofrimento calado e choro sem saber porque.
"Oh querida", penso com pena, mas, ao mesmo tempo, reflito se não está atuando, como já te vi fazendo, e as lágrimas não são falsas. Cuidado, querida, seu amor pode ter incendiado todo o lugar, ou até mesmo você por completo. Passo as mão por seus cachos dourados e riu sabendo que um dia acordaras.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Será fria

Então, volto a verdade que me acorda dos momentos sem a cólera que me persegue. Sempre soube que estaria só. Na realidade, gosto e já me acostumei em me sentir desta forma. Ao redor, as pessoas me incomodam e, por isso, eu as esqueço. Talvez o meu escudo apareça somente nas horas em que estou vulnerável. É difícil os outros perceberem.
Não preciso, somente vou fazendo as coisas. Às vezes, sem mesmo planejar ou sem razão vou vivendo em busca do encontro, da sensação de que a vida valeu a pena. Criar nunca foi problema para mim. As palavras corriam rápido em minha mente e devagar no papel. Cada momento saboreado e delicioso escrito . Mas, a tinta secou e o plano das ideais sempre está comigo. Talvez, pensando platônicamente, esse plano seja o correto.
Delírio, sussurros, gemidos e um papel em branco ao longe. Talvez a inspiração só me venha no momento do desejo. Preciso querer, arder.Quando estou amarga é difícil lembrar. Eu ri dos outros para não ter que recordar do passado tão rejeitado.
Queria deitar numa cama de lírios vermelhos, margaridas brancas, rosas azuis. Queria esquecer de tudo e recomeçar. Queria ser de novo aquela presa no espelho que grita e soluça ao me ver delirar. Queria somente a lembrança e os momentos que não voltam, que ficam presos na infância e nos dias que jamais irão voltar.