sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sonhando com um anjo

Um mergulho, um salto e susto. Acordo com a luz que invade meu quarto. Ando embalada pelo sono, tento lembrar no que estava pensando antes de abrir os olhos para a realidade fria da minha vida. Levanto devagar e abro uma gaveta perto da minha cama. Estava vazia. Silêncio. Começo a procurar o veneno que afaga e deleita. Não encontro. Meus cigarros sumiram, não os vejo.
Um certo desespero invade minha alma e respiro tentando me lembrar onde estava meu tesouro fúnebre, minha arma contra a monotonia de uma vida sóbria. Olhando melhor ao redor, percebo que tudo havia mudado de lugar, os móveis, os objetos, a minha casa. Tudo.
A angústia podia ser saciada por outra coisa então. Além do cigarro e do sono, que já havia me deixado, nada melhor do que me deliciar com alguma comida calórica e que mata só de olhar.
Esperançosa, parto para cozinha procurando um conforto, um remédio para a solidão, para o vazio em mim. Procuro calmamente qualquer coisa que possa me divertir por uns segundos e me culpar por muitas horas. Nada. Irrito-me. "Onde estão minhas coisas?", pensei. A raiva me invade por completo. Sem cigarros, sem ataques matutinos à geladeira. "Será que tudo estava perdido?"
Paro e escuto uma risada, ao longe, uma voz que sussurra ao meu ouvido. Sei que há sim uma solução melhor do que a fuga, melhor do que uma desculpa para uma subvida. Sinto meus pés formigarem e meu corpo sendo puxado, arrancado do tempo e do espaço. Abro os olhos e vejo meu quarto exatamente como era antes. Ainda é noite. Corro para a varanda e vejo as estrelas que brilham na imensidão. Não penso em mais nenhum paliativo para tristeza porque não estou mais taciturna como antes e sim espero o anjo voltar para que eu possa dormir novamente em seus braços.

Um comentário:

  1. Interessante, Hilda.

    Hoje em dia é um tanto raro ver pessoas com coragem suficiente de largar a zona de conforto por algo em que acreditem de verdade. Esses são verdadeiros mestres da própria mente. De si mesmos. Essa escolha nunca foi simples. É uma maratona que temos de correr sozinhos, sem ninguém para passar o bastão para que possamos enfim descansar um pouco. Todavia, existem esses ditos “anjos” que podem torcer por nós do lado de fora da corda, sempre gritando o famoso VOCÊ CONSEGUE! Às vezes somos os anjos, às vezes, os desesperados... Às vezes, os dois. É válido viver ambos os lados pelo menos uma vez. Mas, tem horas que é importante também não ser nenhum. Só nós mesmos. De verdade. Sem prisões. Temos várias formas de conseguir liberdade. Para mim, aquela conseguida sem ser prisioneiro de nada é a mais deliciosa. Que bom encontrar alguém que também pensa assim.

    Então, Sejamos livres! ;)

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