Era uma nuvem que passava ligeira. Celeste lembrava ds dores que sentia de quando em quando. Não era nada que a fizesse correr para o hospital. Somente sentia sua pernas latejarem e seu nariz sangava. Sentia lentamente o sangue escorrendo por sua face. O costume com a situação a deixara um pouco fria, não se importava de andar pelas ruas enquanto todos ao redor riam de cada gota derramada.
Todos os dias caminhava até a cidade sozinha. A dor a consumia e sentia vontade de gritar. Mas segurava seus impulsos e somente sorria para aqueles desconhecidos que a desprezavam por ser diferente de todos os outros. Celeste, só Celeste sabia que, no fundo, todos nós somos diferentes. Temos problemas que vão além das contas, das notas, dos filhos. Nós, seres humanos, temos problemas em lidar com nós mesmo e fugimos desse embate, dessa força que nos impulsiona a refletir.
Compramos, rezamos, beijamos e deitamos para dormir repetindo que sobrevivemos a mais um dia em que poderíamos ter morrido só por estarmos vivos. Delirava então a pobre moça pedindo ao magro rapaz da padaria que lhe desse um remédio para suas dores na perna. "Estamos numa farmácia", repetia. A menina enlouquecida começou a repetir palavras inaudíveis. Ao redor, todos com medo, não identificavam o que aquele animal tentava dizer. Só ouviam grunidos.
O rapaz da padaria pegou um cabinho de madeira que ficava sempre perto da porta, uma porta de madeira muito bonita, Celeste olhara para ela antes de entrar, e começou a cutucá-la tentando afastar aquela selvagem que começa a contorce-se sem ao menos deitar-se. "Tirem ela daqui!", clamava um criança acuada. Urrava de dor,pobre Celeste e alucinada corria sem gritar. Muitos aliviados comemoravam a saída da estranha que sempre andava sangrando.
Sozinha, na luz que queimava seu rosto, clamava por um conforto lunar. Sabia que todos aqueles não poderiam ter o destino que mereciam, não seriam punidos da maneira que ela desejava. Também sabia que, no fundo, por mais óbvio que lhe parecesse, todos eram iguais a ela, ou até piores, só não podiam enxergar. Quando deitou-se em sua cama, dormiu sorrindo sabendo que aqueles corpos morreriam queimando na angústia do vazio da existência infinita. Sua dor não passava. Todos estavam e estão condenados.
H., seus textos sempre me dão arrepios, principalmente os de ficção. Incrível como você ainda guarda um estilo só seu, como possui há cinco anos atrás. Apenas aprimorou-se. Parabéns!
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