Sentado numa cadeira de ouro, olhava seus súditos que tentavam o alcançar. Era de longe o mais bonito dos deuses e mais inteligente também. Não cansava de ouvir as ninfas que sussurravam em seus ouvidos impropérios de paixão. Nenhuma delas era importante. Somente as palavras que amaciavam seu espírito vaidoso.
De longe, uma bela dama olhava aquele narciso que parecia-lhe distante de tanta luz que o rodeava. Para ela, um ser revoltante. Já havia amado guerreiro, cavaleiros errantes. Não se impressionava com o brilho de um deus sonhador. Um anjo dançava entre nuvens douradas sob a cólera daquele que não sabia amar.
O deus de repente sentiu seu coração congelar. O mundo de cores e lira parou de existir. Versos, fantasias e a sede de uma paixão pueril. Olhou aquela que o encarava. Seus olhos de ressaca e uma boca vermelha. Seu peito flamejava, ardia de dor e delírio. Petrificado, olhava seus gestos e sonhava em ouvir sua voz.
Lanças da madrugada, beijos imaginários, voavam num céu de estrelas. Aquela mulher não parecia real. Sua beleza cegou aquele que a admirava. Um louco apaixonado que nada mais podia ouvir, falar. Queria aproximar-se daquela dama de chamas, mas seu corpo estava numa letargia irreal.
Porém, tão rápida quanto surgiu, desapareceu por entre as flores de um céu que se tornou amargo. Quem outrora reinava sobre as estrelas, tornou-se um homem sozinho e infeliz caído ao lado de sua dourada cadeira de deus.
Todos os "Narcisos" da vida acabam assim...
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