sábado, 27 de novembro de 2010

Olhos Frios

A dor rasga. Perfura. Olhando aquele mar sem brilho, me pergunto onde está ele. Na realidade, não há recordações em que não apareça. Sua música toca bem distante e sei que estaria triste ao ver minhas lágrimas e faria questão de me dizer "estou aqui, não existem mais problemas". Sempre fez isso, na verdade.
Um turbilhão de pensamentos e todo o resto fica distante. Uma solidão imensa me perturba, um vazio e a angustia que já me perseguia ainda quando você existia. Não entendo de tristeza, assim como você também não entendia. Somente sinto. Sinto a lancinante verdade me absorver, me torturar até eu não aguentar e fechar os olhos desistindo de tudo, de todos.
A praia, as ondas se transformam no seu sorriso, nas recordações de um tempo melhor. Você me persegue em todos os lugares, não há momento em que, distraída, não pense em você. Você. Não consigo nem mais escrever racionalmente. As palavras me vêm e eu não consigo expressa-las muito bem.
 Sempre me ensinou que não devemos escrever com o sofrimento pulsante, que devemos ser um pouco Pessoa e não sentir, ser um poeta fingidor. Queria poder, agora, ser assim. Escrever versos sem lembranças, sem lágrimas e sem sentir, ainda, seu corpo frio em minhas mãos.

Conversando com o nada

      Após mais um longo dia (trabalhando num sábado) olho a vida pela janela. "Talvez pedi demais", pensei. Hoje, já é tarde para perceber isso. Me arrependo de não ter tentado enquanto era possível. As oportunidades sempre escorregam das minhas mãos e fico sem ar, parada. Nenhum movimento.
      Sem ar fico cambaleando sem destino. Aqueles olhos que me rodeiam. Cantam alegres, sempre. A canção se repete muitas vezes, o mais engraçado é que sei que irá começar de novo. Mas, ainda assim, espero, paciente, mas apreensiva. Nada é novidade, nada passa despercebido. 
       Possuo muitas manias que me corroem e são as armas que uso contra mim mesma. Às vezes não entendo e fico até espantada com a loucura da vida. Como uma palavra repetida pode mudar o sentido das coisas. Porque? Isso já não sei responder.Somente sei  que ele não me deu nada, cobrou, sim, cobrou os minutos passageiros de prazer.
       Mas, já esperava por isso também. na vida não existe novidade, só uma ressifignicação de coisas antigas. Sentada, escrevo coisas sem sentidos, mas que, de alguma maneira, deve lembrar algo, aquilo que todo mundo já leu. O que se modifica são nomes, nomes das pessoas que escrevem. 
         Não reclamo. De verdade, não me incomoda. Só me faz refletir que é isso que é a vida. É para viver uma série de repetições que todos ficam agitados, nervosos, apreensivos. Olham no relógio para saber quantos minutos faltam para acabar o horário de trabalho, torcem para que as férias cheguem, que o dia feliz se aproxime.
        Não querendo ser amarga demais, mas sim sincera o suficiente, pergunto: quando é que esse dia chegará. Enquanto almoço já penso no que farei para o jantar, esperançosa, ansiosa. No jantar, anseio para que, no outro dia, tudo dê certo. O ser humano gosta mais da espera do que dos acontecimentos em si. Se arrumar para ir à algum lugar, combinar de ir dançar muito numa festa.
         Afinal, como concluir um texto que fala sobre o nada. Talvez com silêncio, sem palavras e sim relaxando, tomando mais um copo e ouvindo Johnny Cash ansiando pelo dia de 
amanhã.



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dançando ao fim do luar


       Ela estava ali ... sentada naquela cadeira antiga enquanto olhava fixamente mais um dia amanhecer. Não eram os dias e sim as horas que a incomodavam. Passavam lentamente, rindo, zombando dela. Um livro antigo aberto na mesma página. Não consegui deixar de ter certeza que ainda estava ali, aquela figura, pairando no ar.


       Hesitante, tirava sua vida com um lento veneno e se deliciava enquanto a morte tomava conta do seu corpo. Por isso servia longas doses. Tormento, Silêncio. Tortura.
     Quando o procurou, não queria o desejo pulsante e sim  a ternura de seus braços, a calma que a evolvia enquanto, de longe, ouvia o mais belo dos cantos já entoados. Mas não entendeu. Ninguém a compreendia, pois, mal conseguia falar. Um grande muro a afastava da magia de poder estar ao lado de quem amava.
      Mas , já amou? Não conseguia se lembrar dos nomes, das pessoas ou ao menos de quem já foi outrora. Sua juventude deve ter sido boa. Sua infância , pelo menos. Sentia-se velha como o livro que ainda permanecia aberto e resistia ao vento forte que tomava conta da sala.
      As palavras fugiram . As abandonaram há muito tempo. Temiam ser seu instrumento, não queriam ser algozes, prisioneiros. E, por isso, a prenderam naquele lugar. Uma história em fragmentos , um sussurro em meio de gritos, um sorriso falso quando queria apenas ignorar todos ao seu redor.

sábado, 13 de novembro de 2010

Sonhando ao vento

   Acordo com as lembranças daquele sonho de novo. Pulo na varanda, sem medo, sem arrependimentos. Vejo o céu sem estrelas enquanto caio lentamente e sorrio. Teus beijos são a última memória, o último refúgio. Não reclamo da vida que tive. Houve bons momentos  que não posso esquecer ou ao ao menos reclamar. Pulo não porque sofro, mas porque não vejo mais sentido.
   É assim toda vez que acordo.  Sem ar, olho o quarto escuro e só uma luz bem de longe. O som alto da música e os risos me fazem saber que talvez essa seja a realidade. Ainda confusa toco no meu corpo e sinto o sangue correndo. Não é a primeira vez, também não foi a última.
    Será que ainda o quero?Será que ainda me quer? Questões que nunca terão resposta, que nunca perguntarei. Sei que mentiria. O orgulho sempre sobressai aos sentimentos. As recordações não são suficiente para fazer meu coração parar de bater tão forte. Suspiro tentando me lembrar porque estava chorando.
     Busco em palavras razões para fugir. procura em devaneios soluções que não virão. Sinto você de longe. Sei que agora está com ela. Talvez se deixasse o mundo não reparasse. mas, isso só são loucuras da madrugada envolta ainda pela fumaça. Uma música, um toque e nada será como antes. Senti cada momento, mas a saudade  é mais forte do que o vestígio daquela noite.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Na piscina

    Calada quando sentia que deveria falar, mergulho em desepero e solidão ao redor de tantos. É ela que me lembra daquilo que não queria pensar. A descoberta me angustia e me faz querer fugir. Não posso. A sinceridade que tanto buscava se tornou meu algoz, eu, a vítima  de mim mesma.
   O céu calado não me dá as resposta que preciso e a busca parece não ter fim. A fumaça dos meus inúmeros cigarro me envolvem como as brumas da noite sonhada.  Mas a fumaça não é como outrora, mágica, sedutora. É fria, sangrenta, tortuosa.
  Sei que não é para sempre, mas o momento já é suficiente para me abalar. Não vou falar de lágrima que descem quente pela minha face. Não as vejo mais. O sentimento já congelou como o instante em que disse que não me veria mais.
  Um chamado, um desejo, uma sombra do que já passou. A espera infinita não mais me surpreende. Não resisto a dor de saber que ainda virá e o tempo me fará decidir. Não há resto, não há. Somente. O fogo do teu olhar já me respondeu. Mas será que seus olhos flamejam por ela também? Não me sinto a única, não posso ser.A dúvida me corroe e ela sempre está lá para me lembrar que existe, que não me pertence.
  Até nos sonhos está lá para me acordar e trazer a realidade para meu refúgio. Palavras como punhais que me ferem profundamente. O sangue jorra de minha alma e a inspiração de antes se torna ódio e rancor. O brilho se apaga e lembranças correm na minha mente exaltada. Estou exausta de argumentos, da falta de fantasia, do não começo.
   Quero hoje, agora. As horas passam lentamente e acendo outro cigarro. Não era o que eu queria, nunca é. A sensibilidade nunca combinou comigo. Não costumava chorar tanto, ser tão frágil e óbvia. Mas, no fim, tudo acaba em risadas e conversas na madrugada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Distraída entre as palavras

   São seis da tarde. Acendo mais um cigarro. Enlouquecida pela cólera me embebedo nas palavras da antiga canção. Não é a mesma. Ou será? Não tenho certeza, minha mente confusa já não tem qualquer vestígio de sensatez que possuia antes.
   Mas o que foi que aconteceu? Os anos passaram e esqueci quando foi exatamente que ele foi embora. Alguém sussurra em meu ouvido que a verdade está distante e tento procurá-la. "Fugiu de  mim", pensei. Sempre foi assim a distância é grande demais para que cinco minutos de uma vida sejam perdidos.
  Na realidade a agonia já se tornou parte de quem sou. Palavras soltas se espalham nas brumas da madrugada. Já é madrugada? As horas passam lentas e, de repente, envelheci.Somente o som das folhas das árvores que balançam no ritmo de minhas lágrimas me envolvem. Ninguém. Ninguém e o nada, esses meus doces amigos que me acompanham.
   A vida se tornou um martírio. Não há mas beleza nesse sol que vejo nascer.Olho ao redor e só vejo soluções. Liberdadde! Querida e terna amante que tira  as amarras da tortura de viver. Mergulho num rio profundo de mim. Sorrio e os sonhos  tomam conta de mim. O que será a realidade. É o que vivo hoje? É o que já vivi? Já não importa, pois envolta neste rio de sangue enterro a dor da perda junto a mim.
     

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Canção

A dor ainda é muito profunda. O silêncio ainda me persegue e o passado não tem retorno. Lembrando,  vendo as imagens dos dias mais ensolarados dos que de hoje,posto uma música escrita por Edil Pacheco para mim e minha irmã, Enoe. Esta canção foi escrita e entregue a meu pai que sempre cantava para dançarmos:


"Hilda e Enoe saem da floresta
Vêm ver o sol rair.
Popa e Tatatá correm pra pular
É hora de fazer a festa.

Enoe vem depressa entra na roda,
Com a Hilda se rebola
Todo mundo vem dançar.
Vem cá morena
Vem entrar nessa ciranda
Sapateia na varanda
Até o dia clarear
Hilda e Enoe..."