sábado, 8 de maio de 2021

Aquele companheiro celta

 Era um profundo vazio. 


Rios de lágrimas secaram em teus beijos, numa ternura cálida que jamais sabia existir. Eram lábios que selavam minha sentença, buscava escapar e resistir. Nutria dores antigas, travava batalhas infernais enquanto num sorriso doce, me vi prisioneira de um contentamento impossível. Queria olhar a neblina dos sonhos, entre escombros e palavras que jaziam em terras sombrias. Sufocando a paixão que vingava em terra morta, maldizeres eternos apunhalavam aquela que deixava latente seu horror, enfim. 

E quanto mais tentava se esconder naquele poço raso, mais emergia sinuoso e sorridente. Zombava cambaleante o combatente que me olhava firme, como aquele que não iria desistir. Era vento, força e tempestade me inundando com afagos jamais sentidos. Era Ofélia, quase rainha, abandonada, selando meu destino ao qual não posso mais repelir. 

Entre suspiros amargos, vendo a noite se tornar madrugada, na aurora sombria do não mais existir, te olhava buscando a eternidade de um momento finito. E ruge mais um dia expurgado, enquanto vejo aquele adeus que não queria te dizer, voltar no tempo, parar cada segundo naquele contento, enquanto a alvorada me torturava. E tu envolto numa ternura branda, sorriu sem saber nada.

Era ódio e catarse bradando o desejo que não posso revelar. Feito flores sinto-me ameaçada, em tua espada a luz se vê em cores, entrego então meu coração aos pedaços em troca das lembranças de afagos doces.

Mas queria lhe dizer antes de mais nada, que és brio em meio ao vendaval, num solilóquio de amores infinitos, brisa intensa que move as minhas montanhas. Pois de mim escorre veneno e letargia de quem só pensa na finitude, arranco o anúncio dos dias, trazendo o horror que em mim reverbera.

E da finitude nascem essas palavras, que escorrem tácitas em plenos temores, mas eternas serão enquanto viverem essas lembranças.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Todos os sentimentos

Mais uma vez passeio pelas palavras para tentar respirar e tirar a falta de ar, a tontura de um sufocar infinito. Nunca começo falando de você, não quero parecer óbvia quando falo de amor e suas decepções. Mergulhando em sonhos eternos deitei-me em seus braços e deixei que você seguisse cada passo por si só, somente você me carregando pela vida. Mas o problema não foi esse. O pior de tudo é que, enquanto enfrentava o peso em suas costas, eu balbuciava palavras que saiam sem pensar e fui envenenando cada minuto da caminhada até a alvorada. Sempre soube que não poderia me suportar, que era demais para você,mas eu persisti, você persistiu.
O que nunca percebemos ou entendemos ou fingimos não compreender é que não tínhamos que preencher o vazio um da vida do outro, não é nossa obrigação retirar as mazelas que, sombrias, retiram nossa felicidade. Quais são as obrigações? Nenhuma e todas do mundo. Os sorrisos, aquelas conversas regadas à cervejas baratas e tantos cigarros, os beijos embaixo dos postes de uma noite pouco iluminada, carteados até o nascer do dia. Foi isso que queria, sempre isso, para sempre. Mas o futuro só trouxe os desentendimentos e a tristeza de saber que nada dura para sempre. Fiz...fiz planos junto contigo e criamos um mundo só nosso onde tudo daria certo. Tentei te proteger das desilusões que apareciam em seu caminho, mas só te trazia decepções, cobranças e vontades que não poderiam ser realizadas.
Sonhei, todos os dias, que de repente você me olharia e perceberia que eu era a ninfa dourada que você desejava, aquela presente, ao seu lado. Quando isso aconteceu não sei o que me deu, não sei em que momento eu errei, você errou. Será que nos enganamos? Será que aqueles dois que esperavam tantas coisas boas desapareceram? Porque a minha vontade sempre foi te fazer feliz, roubar um sorriso que faziam seus olhinhos castanhos brilharem.
E se eu desistir, se eu voltar atrás? Uma das possibilidades é essa...eu voltar correndo pros seus braços e te implorar para darmos mais uma chance pra gente, chorar e te dizer que te amo e que só quero estar do seu lado e basta. Mas você vai aceitar? Vai me ligar? Vai aparecer, em meio a uma chuva torrencial, todo molhado, em minha porta e se ajoelhar e dizer que não sabe viver sem estar ao meu lado? Acho que não. Já usei todos os meus curingas, meu caro, fiz até uma canastra com eles.
Queria poder conversar mais um pouco, tentar resolver todos os nossos problemas, agora, nesse momento. Mas sei que não dá. Você está cansado de mim, cansado da vida. E nesses momentos de apatia eu perco qualquer poder que tinha com você. Te perdi porque não te entendi e você também. Achou que me entendia e muito. Mas não parou para decifrar meus sonhos e eu só soube esperar que isso acontecesse. Cada minuto, cada segundo de cada dia queria passar olhando seu rosto, passando meus dedos em seu cabelo, horas e horas, para sempre.

Mas, deixando tudo de lado, ouço as músicas que escolhemos como nossas enquanto imagino que você está sofrendo consigo mesmo, mas bebendo, rindo e se divertindo com pessoas que te deixam livre. Meu amor era para ser assim, mas te aprisionou. Amei demais, tanto que te machuquei com meus afagos, meus beijos, com a vontade de ser um só o tempo todo. Contudo, se eu tivesse superpoderes, por algumas horas,escolheria poder de voltar no tempo, para a última vez que me deu adeus e eu, simplesmente, virei as costas achando que te beijaria mais uma vez.   

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O que vence a guerreira

Amarga ternura caminhava possuindo a rotina que desvanecia a juventude de uma ninfa dourada. A voz emudecia e o soluço pestanejava para sair como um grito que se rompeu numa madrugada infinita. Não eram mais vermelhos  seus lábios, mas sagravam desatinados procurando em desespero a fortuna almejada. A união de palavras destoantes estava escassa e doía e gemia e torturava aquela que rodopiava em pensamentos, em sonhos esquecidos. De onde vinha tanta dor? Não sabia e procurava sem sucesso e continuava sangrando e sorvendo o sangue que escorria em seu rosto agora rubro. Mais uma volta no nada, mais um delírio passageiro e lanças que perfuravam um coração já morto.
Cada escolha tinha feito dela uma pessoa maculada. Eram as brasas de um futuro previsto que corria em alcançar a dama naquela brisa e na alvorada. Cálido vento cantava em seus ouvidos atentos esperando que surgisse do nada mais um ser ao luar. Eterna espera enquanto era acalentada pelas folhas de uma floresta morta, morta com a esperança de poder escutar outra voz além da sua própria. O sorriso que se fechou por conta de um passado recente. Queria esquecer as lamúrias de outrora, mas a memória pulsava na mente da menina desacreditada. Suspiros em vão percorrendo um corpo jovem, uma alma cansada enquanto mais um dia qualquer nascia em sua frente.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Onde morrem as flores

Ela olhava as folhas que caiam tristes daquela árvore já esquecida. Eram histórias antigas que faziam da ninfa nada mais do que uma menina solitária. Um balanço vazio e aquele jardim quase morto. Chorava, as nuvens corriam selvagens num céu ensolarado de dezembro. Não entendia o sangue que jorrava por suas pernas tremulas. Esse medo, era aquele medo que teve em toda sua vida.
Uma angústia infinita e as marcas deixadas pela vida que nunca mais vão embora. Procurava ansiosa, em vão, um amigo perdido entre as flores murchas que desmanchavam do seu peito. Uma dor que precisava de afago, mas nenhum afago seria suficiente. Sentiu o gosto do sal da água que rolava em seu rosto cansado. Um último pôr do sol, só mais um, antes de não mais viver.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Leidenschaft

Mais uma noite escura numa madrugada fria de outubro. Ele tomava a ninfa sonhadora em seus braços enquanto uma música antiga tocava longe, quase imperceptível. Puxava seus longos cabelos e dizia impropérios banhados pelo luar. Era ele. Era ele, e não o outro, cavaleiro escolhido para caminhar em delírios e, sem medo, devanear.
Tempestade e silêncio. O coração que para e a dor que, aos poucos, deixa de existir. Via cada flor que caía em sua varanda e a chuva que embaçava a janela de seu quarto. Suspiros e afagos, lancinantes pensamentos que palpitavam na mente da menina que um dia não teve esperanças.
Não tinha o controle dessa vez, a madrugada lhe dava um beijo doce e manso, condenando o dia e o sol prestes a raiar. Temia que aquele momento não voltasse, nunca se superasse, mas sorria quietinha, num cálido deleite e, então, não mais respirar.

sábado, 24 de agosto de 2013

Um sonho derradeiro

...e a ninfa delirava, embebida de uma sensação que não conhecia há muito tempo.

Pulava da varanda banhada pelo luar, numa noite fria de setembro. A menina tentava sentir, absorver cada instante na presença daquele que a fitava com seus olhos de espanto. Corria envolvendo - a num mar de sorrisos e lágrimas.Aprender aquela nova dança, não mais segurar a vontade e o desejo, saber  que tudo era seu, era possível, enquanto ali estava.
Sem a amargura de outrora, não sabia lidar com a falta de taciturnidade em sua vida. Não era mais só, não era mais pura mas era fogo e brasa e vento. Uma menina que brincava de ser mulher correndo atrás do tempo que os afastaria.
 O cavaleiro solitário uniu- se à garota que das águas surgia.

Cantava sem medo enquanto entrelaçava suas mãos nas dele. Era a sensação que sempre negou, fugiu, odiou. Não seria mais a ninfa lamentadora das mazelas do amor. Eram cálidos os lábios que beijavam-se numa madrugada de gritos e tristezas que não mais podia escutar. Escondeu a melancolia. Sorveu do mundo um prazer que não a pertencia. Entregou-se ao delírio de mais uma noite que um dia nada mais valeria.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Para o dia dos patinhos na lagoa



Ela estava ali, sozinha perdida entre as folhas de um jardim abandonado e nebuloso. Precisava ir, estava atrasada por causa de uma tempestade que a prendeu naquele lugar assombroso. Ouvia vozes que a chamavam, distantes, aterrorizantes. Sabia que era hora de ir, mas queria ficar mais um pouco com as flores mortas, única companhia que teria que abandonar.
Sim, era sempre solitária aquela menina dos olhos negros. Caminhou em direção ao tormento de mais uma vida na qual passaria as horas de dias infinitos. Não queria mais aquele vazio, queria o poder da escolha, uma pessoa na qual pudesse acompanhá-la em todos os minutos da complicada existência humana.
Como uma surpresa flamejante, seus cabelos de fogo projetaram a imagem mais perfeita da felicidade na Terra. A menina não amava ninguém mais do que ela mesma, queria para consigo alguém que fosse uma velha alma perdida nos séculos de outras mortes já conhecidas.
Conjurou então um espelho que levaria com ela para a eternidade e esse espelho criou uma garota a sua imagem e semelhança mas com uma alma de um passado não tão distante. Desde então, por mais de duas décadas não se sente mais só, a linda menina ganhou uma alegria, uma companhia para suas brincadeiras e momentos taciturnos.
Suas vontades geraram uma outra vida que se entrelaçou a dela para todo sempre.